quinta-feira, 30 de outubro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
DOAÇÃO DE SANGUE
Olá a todos,
estamos formando um grupo para doar sangue no INCA, Hospital da Cruz Vermelha, no dia 22 de novembro (sábado), às 10h da manhã. Obrigada aos que puderem participar conosco.
Orientações para doadores de sangue
Há critérios que permitem ou que impedem uma doação de sangue, que são determinados por normas técnicas do Ministério da Saúde, e visam à proteção ao doador e a segurança de quem vai receber o sangue.
O doador deve:
- trazer documento oficial de identidade com foto (identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira do conselho profissional ou carteira nacional de habilitação);
- estar bem de saúde;- ter entre 18 e 65 anos;
- pesar mais de 50Kg;
- não estar em jejum; evitar apenas alimentos gordurosos nas 4 horas que antecedem a doação.
Impedimentos temporários:
- Febre
- Gripe ou resfriado
- Gravidez
- Puerpério: parto normal, 90 dias; cesariana, 180 dias
- Uso de alguns medicamentos
- Pessoas que adotaram comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis
Cirurgias e prazos de impedimentos:
- Extração dentária: 72 horas
- Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses
- Colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem seqüelas graves, tireoidectomia, colectomia: 6 meses
- Ingestão de bebida alcoólica no dia da doação
- Transfusão de sangue: 1 ano
- Tatuagem: 1 ano
- Vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacinaImpedimentos definitivos
- Hepatite após os 10 anos de idade
- Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas
- Uso de drogas ilícitas injetáveis
- Malária
Intervalos para doação:
- Homens: 60 dias (até 4 doações por ano)
- Mulheres: 90 dias (até 3 doações por ano)
Nunca doe sangue se você quiser apenas fazer um exame para AIDS. Neste caso, procure um Centro de Testagem Anônima e gratuita. Informe-se pelo Disque-Saúde: 0800-61-1997 ou pelos Centros de Testagem Anônima.
Cuidados pós-doação:
- Evitar esforços físicos exagerados por pelo menos 12 horas
- Aumentar a ingestão de líquidos
- Não fumar por cerca de 2 horas
- Evitar bebidas alcóolicas por 12 horas
- Manter o curativo no local da punção por pelo menos de 4 horas
- Não dirigir veículos de grande porte, trabalhar em andaimes, praticar paraquedismo ou mergulho
Em caso de dúvidas, entrar em contato com o Serviço de Hemoterapia do INCA pelo telefone 2506-6021 / 2506-6580 / 2506-6064.
Onde doaremos:
Hospital do Câncer I (Unidade Hospitalar do INCA)Praça Cruz Vermelha, 23 / 2° andar - Centro - Rio de Janeiro
Horário: segunda a sexta-feira das 7h30 às 14h30; sábado das 8h às 12h
Para doação de plaquetas é necessário agendar pelo telefone 2506-6064
estamos formando um grupo para doar sangue no INCA, Hospital da Cruz Vermelha, no dia 22 de novembro (sábado), às 10h da manhã. Obrigada aos que puderem participar conosco.
Orientações para doadores de sangue
Há critérios que permitem ou que impedem uma doação de sangue, que são determinados por normas técnicas do Ministério da Saúde, e visam à proteção ao doador e a segurança de quem vai receber o sangue.
O doador deve:
- trazer documento oficial de identidade com foto (identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira do conselho profissional ou carteira nacional de habilitação);
- estar bem de saúde;- ter entre 18 e 65 anos;
- pesar mais de 50Kg;
- não estar em jejum; evitar apenas alimentos gordurosos nas 4 horas que antecedem a doação.
Impedimentos temporários:
- Febre
- Gripe ou resfriado
- Gravidez
- Puerpério: parto normal, 90 dias; cesariana, 180 dias
- Uso de alguns medicamentos
- Pessoas que adotaram comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis
Cirurgias e prazos de impedimentos:
- Extração dentária: 72 horas
- Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses
- Colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem seqüelas graves, tireoidectomia, colectomia: 6 meses
- Ingestão de bebida alcoólica no dia da doação
- Transfusão de sangue: 1 ano
- Tatuagem: 1 ano
- Vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacinaImpedimentos definitivos
- Hepatite após os 10 anos de idade
- Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas
- Uso de drogas ilícitas injetáveis
- Malária
Intervalos para doação:
- Homens: 60 dias (até 4 doações por ano)
- Mulheres: 90 dias (até 3 doações por ano)
Nunca doe sangue se você quiser apenas fazer um exame para AIDS. Neste caso, procure um Centro de Testagem Anônima e gratuita. Informe-se pelo Disque-Saúde: 0800-61-1997 ou pelos Centros de Testagem Anônima.
Cuidados pós-doação:
- Evitar esforços físicos exagerados por pelo menos 12 horas
- Aumentar a ingestão de líquidos
- Não fumar por cerca de 2 horas
- Evitar bebidas alcóolicas por 12 horas
- Manter o curativo no local da punção por pelo menos de 4 horas
- Não dirigir veículos de grande porte, trabalhar em andaimes, praticar paraquedismo ou mergulho
Em caso de dúvidas, entrar em contato com o Serviço de Hemoterapia do INCA pelo telefone 2506-6021 / 2506-6580 / 2506-6064.
Onde doaremos:
Hospital do Câncer I (Unidade Hospitalar do INCA)Praça Cruz Vermelha, 23 / 2° andar - Centro - Rio de Janeiro
Horário: segunda a sexta-feira das 7h30 às 14h30; sábado das 8h às 12h
Para doação de plaquetas é necessário agendar pelo telefone 2506-6064
"Eles não usam black tie"
O Cineclube Casa da América Latina apresenta dia 28/10 — 3a.feira às 18:00 horas, no Clube de Engenharia ( Avenida Rio Branco, 124,19º andar — Centro do Rio ), o filme "Eles não usam black tie" (Brasil — 1981 — 120 min.)
Vale a pena assistir. A direção é de Leon Hirszman e entre os atores estão Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes, Léila Abramo, Milton Gonçalves, Rafael de Carvalho, Paulo José, entre outros.
Sinopse: A trama debruça-se sobre os conflitos, contradições e anseios da classe operária brasileira no fim dos anos 1970, no auge da ditadura militar. Em pólos antagônicos, como alternativa de vida para os trabalhadores, encontram-se a esperança na ação coletiva e a aposta nas saídas individuais. Baseado em peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri escrita duas décadas antes, o filme de Leon Hirszman cativou o público e a crítica e recebeu várias premiações, entre as quais se destacam o Grande Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica (Fipresci) no Festival de Veneza de 1981.
Vale a pena assistir. A direção é de Leon Hirszman e entre os atores estão Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes, Léila Abramo, Milton Gonçalves, Rafael de Carvalho, Paulo José, entre outros.
Sinopse: A trama debruça-se sobre os conflitos, contradições e anseios da classe operária brasileira no fim dos anos 1970, no auge da ditadura militar. Em pólos antagônicos, como alternativa de vida para os trabalhadores, encontram-se a esperança na ação coletiva e a aposta nas saídas individuais. Baseado em peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri escrita duas décadas antes, o filme de Leon Hirszman cativou o público e a crítica e recebeu várias premiações, entre as quais se destacam o Grande Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica (Fipresci) no Festival de Veneza de 1981.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
2o Encontro Museus e Patrimônio na construção de outro mundo possível
Companheiros(as),
Vamos dar continuidade a belíssima discussão que iniciamos este ano com a realização do Encontro “Museus e Patrimônio na construção de outro mundo possível” nos 24 e 25 de janeiro de 2008 – Rio de Janeiro – CCH – UNIRIO.
Para tanto, convidamos a todos para participar da reunião preparatória do 2º Encontro a ser realizada dia 06 de novembro de 2008, às 17 horas, no, CCH da UNIRIO.
Ressaltamos que a participação de todos é fundamental no sentido de fortalecer a esperança de envolver, definitivamente, os museus e os patrimônios nessa construção possível. Para nós, essa é uma medida urgente. Não pode esperar.
Com efeito, Paulo Freire nos adverte que: “Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã”.
Um fraternal abraço,
Vamos dar continuidade a belíssima discussão que iniciamos este ano com a realização do Encontro “Museus e Patrimônio na construção de outro mundo possível” nos 24 e 25 de janeiro de 2008 – Rio de Janeiro – CCH – UNIRIO.
Para tanto, convidamos a todos para participar da reunião preparatória do 2º Encontro a ser realizada dia 06 de novembro de 2008, às 17 horas, no, CCH da UNIRIO.
Ressaltamos que a participação de todos é fundamental no sentido de fortalecer a esperança de envolver, definitivamente, os museus e os patrimônios nessa construção possível. Para nós, essa é uma medida urgente. Não pode esperar.
Com efeito, Paulo Freire nos adverte que: “Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã”.
Um fraternal abraço,
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Artistas mineiros expõem no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Sete artistas dos municípios de Januária e de Cônego Marinho, situados no norte de Minas Gerais, vão expor, a partir do dia 23 de outubro, às17h, na Sala do Artista Popular (SAP) do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), trabalhos que retratam a paisagem geográfica e cultural, tipos humanos e sociais da região e que têm em comum a referência ao rio São Francisco e sua importância tanto para vida social, para as cidades ribeirinhas e para o desenvolvimento da região, quanto para o imaginário da população em geral e dos próprios artistas. A mostra Imagens do São Francisco, resultado de parceria entre o CNFCP e o Centro de Artesanato de Januária, ficará em cartaz até 23 de novembro. Estarão expostas e à venda esculturas em madeira de Lucindo Barbosa dos Santos, Carlos Roberto Barbosa de Souza, Sílvio de Almeida e José Francisco Lopes Figueiredo; tipos humanos feitos de pasta de papel, barro e cola de Valdir Rodrigues da Silva; aquarelas de paisagens, cenas e tipos humanos regionais de Carlos Roberto Gonçalves; e pinturas a óleo de Ricardo Pereira Alves.
Sala do Artista Popular
Imagens do São Francisco
Inauguração: 23.10.2008 / Até 23.11.2008
Exposição e vendas
De terça a sexta-feira, das 11 às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 15 às 18h
Rua do Catete, 179 (estação Catete do metrô)
Rio de Janeiro, RJ
(divulgação)
Sala do Artista Popular
Imagens do São Francisco
Inauguração: 23.10.2008 / Até 23.11.2008
Exposição e vendas
De terça a sexta-feira, das 11 às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 15 às 18h
Rua do Catete, 179 (estação Catete do metrô)
Rio de Janeiro, RJ
(divulgação)
Chamada para artigos
A Revista Historia Social da Unicamp abre chamada de artigos, resenhas, transcricoes, traducoes e entrevistas para sua edicao numero 15 - Dossie "Poder e Repressao", ate' dia 10/11/2008. Mais informacoes em http://br.geocities.com/revhistoriasocial/.
(divulgação)
(divulgação)
terça-feira, 14 de outubro de 2008
MAST discute a importância dos museus para a educação
O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no âmbito do ciclo de palestras MAST Colloquia, discutirá a dimensão educativa dos museus com foco nos museus de ciência e tecnologia. A palestra Museologia e Educação vai ocorrer no dia 21 de outubro, às 14h30, com Maria Esther Alvarez Valente, da Coordenação de Educação do MAST.
Quem não puder participar presencialmente terá a oportunidade de acompanhar o MAST Colloquia pela internet. No dia do evento, a palestra será transmitida pelo site http://www.mast.br/, com suporte da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Os interessados ainda poderão fazer perguntas através do e-mail perguntas@mast.br.
A palestra acontecerá no auditório do Museu de Astronomia e Ciências Afins, na Rua General Bruce, 586, Bairro Imperial de São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ. A entrada é gratuita.Mais informações pelo e-mail mailto:%22mast@mast.br%22 ou pelo telefone (21) 2580-0970.
(divulgação)
Quem não puder participar presencialmente terá a oportunidade de acompanhar o MAST Colloquia pela internet. No dia do evento, a palestra será transmitida pelo site http://www.mast.br/, com suporte da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Os interessados ainda poderão fazer perguntas através do e-mail perguntas@mast.br.
A palestra acontecerá no auditório do Museu de Astronomia e Ciências Afins, na Rua General Bruce, 586, Bairro Imperial de São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ. A entrada é gratuita.Mais informações pelo e-mail mailto:%22mast@mast.br%22 ou pelo telefone (21) 2580-0970.
(divulgação)
Forum UNESCO
University and Heritage - Universidad y Patrimonio (FUUP) es un proyecto de la UNESCO para la realización de actividades para la protección y salvaguarda del patrimonio cultural, a través de una red informal de instituciones de educación superior. FUUP está bajo la responsabilidad común del Centro de Patrimonio Mundial de la UNESCO y la Universidad Politécnica de Valencia (UPV), España. Este sitio web no es un sitio oficial de UNESCO, sino un sitio web creado y gestionado por la UPV en el marco del proyecto FUUP.
Para maiores informações e adesão entre http://universityandheritage.net/esp/index.html
(divulgação)
Para maiores informações e adesão entre http://universityandheritage.net/esp/index.html
(divulgação)
domingo, 12 de outubro de 2008
A formação territorial do Rio de Janeiro - Palestra
Na próxima 5ªf, dia 16, às 16h, o Ciclo de Palestras que a Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro vem promovendo debaterá “A formação territorial do Rio de Janeiro”. Na oportunidade, a pesquisadora Fania Fridman apresenta resultados da pesquisa dedicada ao estudo da história urbana e territorial do Rio de Janeiro, desenvolvida pelo Grupo de Estudos do Território e de História Urbana (Gesthu-IPPUR/UFRJ).
Formada em Economia, mestre em Planejamento Urbano e Regional e doutora em Economia Política, Fania Fridman é professora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), pesquisadora do CNPq e Cientista do Nosso Estado, da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Autora dos livros Donos do Rio em nome do Rei (Jorge Zahar Editor) e Paisagem Estrangeira (Casa da Palavra), recebeu o prêmio Jhon M. Tolman da Brazilian Studies Association.
A pesquisa dedicada ao estudo da história urbana e territorial do Rio de Janeiro e desenvolvida no Grupo de Estudos do Território e de História Urbana (Gesthu-IPPUR/UFRJ) será apresentada em duas partes. A primeira será sobre a abertura de caminhos, a doação de sesmarias e a instalação de aldeamentos, postos de fiscalização, bases de defesa, freguesias, quilombos, vilas, cidades, núcleos coloniais e comarcas. O momento seguinte será dedicado ao processo de acumulação e de gestão dos patrimônios dada a suposição relacionada ao papel indutor na ocupação desempenhado pelos proprietários fundiários e funcionários do urbanismo - as ordens religiosas, os membros da Câmara, os engenheiros militares, os nobres e os cavaleiros d El Rei no período colonial - até o aparecimento de novos agentes no século XIX, que assumiram a modelagem não só da ordem urbana mas do território - o capital imobiliário, os novos proprietários fundiários, a burocracia ministerial, os deputados da Assembléia Provincial e as Sociedades Promotoras de Colonização. Durante a palestra está prevista a exposição de mapas, croquis e iconografia de época.
Dia 16 de outubro (5ª feira), Horário: 16h
Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro
Av. Presidente Vargas, 1261 – Centro
tel. 2224-6184
Entrada fraca
http://www.bperj.rj.gov.br/
(divulgação)
Formada em Economia, mestre em Planejamento Urbano e Regional e doutora em Economia Política, Fania Fridman é professora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), pesquisadora do CNPq e Cientista do Nosso Estado, da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Autora dos livros Donos do Rio em nome do Rei (Jorge Zahar Editor) e Paisagem Estrangeira (Casa da Palavra), recebeu o prêmio Jhon M. Tolman da Brazilian Studies Association.
A pesquisa dedicada ao estudo da história urbana e territorial do Rio de Janeiro e desenvolvida no Grupo de Estudos do Território e de História Urbana (Gesthu-IPPUR/UFRJ) será apresentada em duas partes. A primeira será sobre a abertura de caminhos, a doação de sesmarias e a instalação de aldeamentos, postos de fiscalização, bases de defesa, freguesias, quilombos, vilas, cidades, núcleos coloniais e comarcas. O momento seguinte será dedicado ao processo de acumulação e de gestão dos patrimônios dada a suposição relacionada ao papel indutor na ocupação desempenhado pelos proprietários fundiários e funcionários do urbanismo - as ordens religiosas, os membros da Câmara, os engenheiros militares, os nobres e os cavaleiros d El Rei no período colonial - até o aparecimento de novos agentes no século XIX, que assumiram a modelagem não só da ordem urbana mas do território - o capital imobiliário, os novos proprietários fundiários, a burocracia ministerial, os deputados da Assembléia Provincial e as Sociedades Promotoras de Colonização. Durante a palestra está prevista a exposição de mapas, croquis e iconografia de época.
Dia 16 de outubro (5ª feira), Horário: 16h
Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro
Av. Presidente Vargas, 1261 – Centro
tel. 2224-6184
Entrada fraca
http://www.bperj.rj.gov.br/
(divulgação)
Atual e moderno: Machado de Assis ganha novas versões em hipertexto
Por Vilma Homero.
Apesar de declaradamente um homem cético, o autor de Brás Cubas faz em sua obra numerosas citações à Bíblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. São de longe as alusões mais freqüentes em seus livros. É mais um dos aspectos curiosos sobre o escritor carioca que a pesquisadora Marta de Senna, da Casa de Rui Barbosa, abordará em congresso na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Mas não será apenas em Yale que os cem anos da morte do Bruxo do Cosme Velho serão lembrados. Machadianos de diversos países se reunirão em seminários e congressos em diversas universidades nacionais e estrangeiras, mostrando que o escritor, que pouco saiu do Rio de Janeiro, é também bastante reverenciado no exterior.
Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada, Marta de Senna estará presente em algumas dessas comemorações. Com apoio da Faperj, ela embarcou semana passada para os Estados Unidos, onde estará entre os vários especialistas estrangeiros – um deles falará, inclusive, sobre a recepção dos livros do autor brasileiro nos Estados Unidos – que apresentarão palestras sobre os diferentes aspectos da obra machadiana na American Portuguese Studies Association, na Universidade de Yale.
O centenário do fundador da Academia Brasileira de Letras tem mesmo despertado manifestações da comunidade acadêmica internacional. Tanto que universidades como a de Princeton, nos Estados Unidos, homenageiam este ano o mérito literário do Bruxo do Cosme Velho em grandes eventos. Como estudiosa de sua obra, Marta foi convidada a fazer duas palestras na Universidade de Princeton, uma no Programa de Estudos Latino-Americanos e outra para os alunos de pós-graduação em Literatura Brasileira. Ela estará ainda nas comemorações nas universidades de Chicago no início do próximo ano.
Se vivo fosse, Machado talvez ficasse encabulado com tantas celebrações em torno de seu nome. Sempre discreto, pouco se sabe sobre sua vida pessoal. Depois de haver concluído a formação de uma base de dados, disponibilizada no site de busca da Internet (www.machadodeassis.net), a pesquisadora reuniu uma quantidade enorme de material. O site, iniciado em 2005 com recursos do CNPq, só foi ao ar oficialmente em 2008. Mas deu à pesquisadora a idéia de fazer o desdobramento do projeto, desenvolvendo, com apoio de um APQ1, da FAPERJ, a edição dos nove romances do autor de Dom Casmurro, e em seguida de seus contos, como hipertexto.
"Essa também está sendo uma forma de se utilizar todo o material que não pôde ser inicialmente aproveitado no site. Muitas informações que não cabia ser incluídas no banco de dados entrarão nos balões explicativos do hipertexto. Isso permitirá incontáveis desdobramentos", explica.
O autor mais citado em seus romances é o inglês Shakespeare, com 131 citações, seguido por Homero, Camões e Dante, nesta ordem. "Vindo de um background humilde, filho de um liberto e de uma lavadeira (ou costureira, segundo alguns) portuguesa, percebe-se que sua capacidade de assimilar conhecimentos é excepcional", comenta a pesquisadora. Sua origem pobre e o fato de que Machado teve seus primeiros escritos publicados aos quinze anos sempre intrigaram os estudiosos, que muito especulam a respeito.
Pistas sobre sua vida ajudam a conhecer sua obra e vice-versa. Para Marta, com base no que se conhece sobre Machado, pode-se imaginar que seu domínio da literatura indica que, apesar da origem socioeconômica, sua família tinha acesso a livros. "Só o fato de seus pais serem alfabetizados já os coloca numa certa elite, já que grande parte da população, fossem escravos, fossem brancos livres, não sabia ler", fala. Outra hipótese é sobre sua madrinha, proprietária da chácara do Livramento, onde os pais eram agregados. "Viúva de um senador do império, ela provavelmente identificou nele um talento precoce e é possível que lhe tenha permitido acesso a sua biblioteca", fala. Talvez até sua ajuda tenha ido um pouco além. O domínio dos idiomas francês e inglês, que Machado demonstra desde cedo e que lhe possibilitou tornar-se um bom tradutor de obras de Dickens, Vitor Hugo e Poe, também indica que a madrinha pode ter lhe proporcionado aulas e livros.
A favor dessa hipótese, Marta cita a passagem que aparece em uma das novelas de Machado, Casa Velha, que seus biógrafos dizem ter sido inspirada na casa da madrinha. No livro, uma cena que acontece na biblioteca pode sinalizar para uma biblioteca com a qual Machado teria tido contato desde criança. "Talvez o temperamento reservado e orgulhoso de Machado o tenha impedido de revelar o quanto foi beneficiário da estrutura do "favor", que vigorava à sua época. Como agregados da chácara do Livramento, seus pais, e principalmente o jovem Machadinho, deviam ter certas regalias", acredita Marta.
A pesquisadora especula ainda que à medida que vai ganhando maturidade como escritor, seus livros também vão ganhando um sotaque cada vez mais lusitano. "Memorial de Aires é o romance em que esse sotaque português é mais forte. O fato de ter tido uma mãe portuguesa talvez contribuísse para essa pureza no idioma", admite. Todas essas hipóteses são formuladas a partir do cruzamento das informações que vêm sendo minuciosamente coletadas e analisadas pela pesquisadora para o banco de dados e incluídas no hipertexto. "Esse é um trabalho que não termina nunca", resume Marta.
http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=4958
(divulgação)
Apesar de declaradamente um homem cético, o autor de Brás Cubas faz em sua obra numerosas citações à Bíblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. São de longe as alusões mais freqüentes em seus livros. É mais um dos aspectos curiosos sobre o escritor carioca que a pesquisadora Marta de Senna, da Casa de Rui Barbosa, abordará em congresso na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Mas não será apenas em Yale que os cem anos da morte do Bruxo do Cosme Velho serão lembrados. Machadianos de diversos países se reunirão em seminários e congressos em diversas universidades nacionais e estrangeiras, mostrando que o escritor, que pouco saiu do Rio de Janeiro, é também bastante reverenciado no exterior.
Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada, Marta de Senna estará presente em algumas dessas comemorações. Com apoio da Faperj, ela embarcou semana passada para os Estados Unidos, onde estará entre os vários especialistas estrangeiros – um deles falará, inclusive, sobre a recepção dos livros do autor brasileiro nos Estados Unidos – que apresentarão palestras sobre os diferentes aspectos da obra machadiana na American Portuguese Studies Association, na Universidade de Yale.
O centenário do fundador da Academia Brasileira de Letras tem mesmo despertado manifestações da comunidade acadêmica internacional. Tanto que universidades como a de Princeton, nos Estados Unidos, homenageiam este ano o mérito literário do Bruxo do Cosme Velho em grandes eventos. Como estudiosa de sua obra, Marta foi convidada a fazer duas palestras na Universidade de Princeton, uma no Programa de Estudos Latino-Americanos e outra para os alunos de pós-graduação em Literatura Brasileira. Ela estará ainda nas comemorações nas universidades de Chicago no início do próximo ano.
Se vivo fosse, Machado talvez ficasse encabulado com tantas celebrações em torno de seu nome. Sempre discreto, pouco se sabe sobre sua vida pessoal. Depois de haver concluído a formação de uma base de dados, disponibilizada no site de busca da Internet (www.machadodeassis.net), a pesquisadora reuniu uma quantidade enorme de material. O site, iniciado em 2005 com recursos do CNPq, só foi ao ar oficialmente em 2008. Mas deu à pesquisadora a idéia de fazer o desdobramento do projeto, desenvolvendo, com apoio de um APQ1, da FAPERJ, a edição dos nove romances do autor de Dom Casmurro, e em seguida de seus contos, como hipertexto.
"Essa também está sendo uma forma de se utilizar todo o material que não pôde ser inicialmente aproveitado no site. Muitas informações que não cabia ser incluídas no banco de dados entrarão nos balões explicativos do hipertexto. Isso permitirá incontáveis desdobramentos", explica.
O autor mais citado em seus romances é o inglês Shakespeare, com 131 citações, seguido por Homero, Camões e Dante, nesta ordem. "Vindo de um background humilde, filho de um liberto e de uma lavadeira (ou costureira, segundo alguns) portuguesa, percebe-se que sua capacidade de assimilar conhecimentos é excepcional", comenta a pesquisadora. Sua origem pobre e o fato de que Machado teve seus primeiros escritos publicados aos quinze anos sempre intrigaram os estudiosos, que muito especulam a respeito.
Pistas sobre sua vida ajudam a conhecer sua obra e vice-versa. Para Marta, com base no que se conhece sobre Machado, pode-se imaginar que seu domínio da literatura indica que, apesar da origem socioeconômica, sua família tinha acesso a livros. "Só o fato de seus pais serem alfabetizados já os coloca numa certa elite, já que grande parte da população, fossem escravos, fossem brancos livres, não sabia ler", fala. Outra hipótese é sobre sua madrinha, proprietária da chácara do Livramento, onde os pais eram agregados. "Viúva de um senador do império, ela provavelmente identificou nele um talento precoce e é possível que lhe tenha permitido acesso a sua biblioteca", fala. Talvez até sua ajuda tenha ido um pouco além. O domínio dos idiomas francês e inglês, que Machado demonstra desde cedo e que lhe possibilitou tornar-se um bom tradutor de obras de Dickens, Vitor Hugo e Poe, também indica que a madrinha pode ter lhe proporcionado aulas e livros.
A favor dessa hipótese, Marta cita a passagem que aparece em uma das novelas de Machado, Casa Velha, que seus biógrafos dizem ter sido inspirada na casa da madrinha. No livro, uma cena que acontece na biblioteca pode sinalizar para uma biblioteca com a qual Machado teria tido contato desde criança. "Talvez o temperamento reservado e orgulhoso de Machado o tenha impedido de revelar o quanto foi beneficiário da estrutura do "favor", que vigorava à sua época. Como agregados da chácara do Livramento, seus pais, e principalmente o jovem Machadinho, deviam ter certas regalias", acredita Marta.
A pesquisadora especula ainda que à medida que vai ganhando maturidade como escritor, seus livros também vão ganhando um sotaque cada vez mais lusitano. "Memorial de Aires é o romance em que esse sotaque português é mais forte. O fato de ter tido uma mãe portuguesa talvez contribuísse para essa pureza no idioma", admite. Todas essas hipóteses são formuladas a partir do cruzamento das informações que vêm sendo minuciosamente coletadas e analisadas pela pesquisadora para o banco de dados e incluídas no hipertexto. "Esse é um trabalho que não termina nunca", resume Marta.
http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=4958
(divulgação)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Periódico Museologia Hoje
Apresentação
O Periódico Museologia Hoje é semestral e apresenta papers, relatos e breves ensaios de profissionais de museus e pensadores da Museologia e do patrimônio no Brasil. Temos como objetivo inaugurar um fórum de debates sobre as questões que envolvem os museus, a Museologia e o patrimônio na atualidade, de forma a incentivar autores a exprimirem opiniões acerca dos mais diversos tópicos, expondo pontos de vista específicos em relação a estes campos de estudo. A Museologia Hoje, ligada ao Grupo de Trabalho brasileiro do Subcomitê Regional de Museologia para a América Latina e o Caribe (ICOFOM LAM / GT BR), acredita no confronto de idéias e na apresentação de olhares diferenciados como meio para o desenvolvimento de um campo disciplinar que ainda muito tem a crescer no país.
Como Participar?
Este periódico recebe, somente via e-mail (museologiahoje@gmail.com ), breves artigos científicos, relatos de experiências, desde que respeitem a temática chave deste Magazine: Museus e Museologia na atualidade . Os interessados poderão enviar trabalhos que possuam a seguinte formatação: Fonte Arial, 11/ Formato A4/ Em até 3 páginas/ espaçamento simples / imagens em JPG, GIF ou PNG. Notas de Rodapé.
O periódico Museologia Hoje disponibilizará trabalhos, os quais servirão de suporte para novas pesquisas, além de ser este um paço de difusão de idéias.
http://www.museologiahoje.com.br/index.html
(Divulgação)
O Periódico Museologia Hoje é semestral e apresenta papers, relatos e breves ensaios de profissionais de museus e pensadores da Museologia e do patrimônio no Brasil. Temos como objetivo inaugurar um fórum de debates sobre as questões que envolvem os museus, a Museologia e o patrimônio na atualidade, de forma a incentivar autores a exprimirem opiniões acerca dos mais diversos tópicos, expondo pontos de vista específicos em relação a estes campos de estudo. A Museologia Hoje, ligada ao Grupo de Trabalho brasileiro do Subcomitê Regional de Museologia para a América Latina e o Caribe (ICOFOM LAM / GT BR), acredita no confronto de idéias e na apresentação de olhares diferenciados como meio para o desenvolvimento de um campo disciplinar que ainda muito tem a crescer no país.
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quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Estamira
Documentário conta a história da mulher que luta para ganhar a vida e escapar da insanidade no lixão de Gramacho, no Rio, vivendo entre os restos e os descuidos de todos nós.
Comentário de Rafael Evangelista.
Estamira é uma senhora de 63 anos que divide sua vida entre um barraco na velha Rio-Santos e o Aterro de Gramacho, onde se aventura tentando separar o que encontra de aproveitável e os materiais irremediavelmente podres e inúteis que lá ficarão acumulados. É atormentada por distúrbios mentais que a fazem ouvir vozes, ver coisas e ter acessos quase descontrolados de fúria. Tem três filhos, dois deles criados em parte com o dinheiro conseguido no lixão.
Marcos Prado, diretor do documentário que toma emprestado o nome dessa mulher, a conheceu fazendo fotos em Gramacho. Em troca de posar para alguns instantâneos, Estamira pediu que o então fotógrafo sentasse a seu lado e com ela conversasse por alguns minutos. Foi o suficiente para que Prado ficasse fascinado com o que, mais tarde, chamou de “cosmologia de Estamira”: a visão de mundo, misturada com delírios e juízos da personagem, que se indigna contra o “trocadilo”, o “poderoso ao contrário” e que vê as estrelas e a Lua presentes aqui na Terra, sendo o céu apenas um reflexo, espelho do que está embaixo.
Não é um filme fácil. Os vinte primeiros minutos são dedicados exclusivamente aos delírios da personagem, tendo o lixão como cenário. Em belas cenas filmadas ora no preto e branco de uma Super 8, ora com o colorido vivo de uma câmera que parece publicitária, ouvimos a voz da personagem filosofar sobre o que se usa, o que se tem, o que se guarda e o que se joga fora, e vemos as primeiras imagens de seus companheiros de trabalho, outros idosos vivendo do lixo e com quem Estamira parece ter melhores relações do que com sua própria família.
É nesse início que encontramos, possivelmente, a chave para o filme. Diz Estamira sobre o que se encontra em Gramacho: “às vezes é só resto, às vezes vem, também, descuido”. Descobriremos depois que isso não vale apenas para os objetos que lá estão, mas também para as pessoas: no lixão circulam restos de vidas e pessoas que não foram cuidadas.
Marcos Prado nos leva então, vagarosamente, a entrar na história de vida e da loucura de Estamira. Foi levada a um prostíbulo pelas mãos do avô, aos 12 anos. Saída de lá aos 17 para casar-se, passou a ser traída pelo marido, após um breve período de estabilidade. Por meio de um novo casamento, foi parar no Rio de Janeiro. O novo marido, com quem teve o segundo filho, além de a trair, a fez internar em um hospício a própria mãe, também doente mental. Depois de intensas brigas com o marido, saiu de casa e sua primeira providência foi tirar a mãe do Hospital Pedro II, sanatório psiquiátrico reconhecido, até os anos 80, pelos maus tratos a seus pacientes. Foi, ainda, estuprada pelo menos duas vezes.
Depois disso tudo, passou a ter seus delírios. A mente parece ter encontrado uma trajetória de escape pelas alucinações. Sua grande revolta é contra Deus e a religião. As cenas em que grita intensamente contra o filho, o neto, ou qualquer pessoa que fale em religião causam mal estar. Estamira indigna-se contra quem não cuidou do mundo, que permite que tudo esteja ao contrário, o “poderoso ao contrário”. Diz ser comunista. Não que queira que todos tenham o mesmo trabalho e comam a mesma coisa, mas que exista igualdade.
São os momentos coléricos de Estamira contra a religião que quebram, por minutos, a estetização que o filme faz, mesmo que involuntariamente, do lixão e da loucura. O vento forte, a chuva, o imenso espaço tomado pelo lixo em Gramacho, oferecem ao diretor a matéria-prima para construir – para o espectador que está confortavelmente sentado em sua poltrona e que não sente o mau cheiro, a sensação de insegurança, o frio ou o calor do lugar real – imagens belíssimas. Do mesmo modo, a paixão e a intensidade com que Estamira defende sua “cosmologia”, fazem com que a loucura possa ser lida pelo espectador como genial, filosófica, verdadeira e essencial.
No documentário propriamente dito, o objeto não é o lixo, e sim a vida e as relações de Estamira. Para quem quer conhecer mais sobre o lugar de trabalho da personagem mais interessante (ou inerentemente complementar) é o média metragem Estamira para todos e para ninguém, incluído no DVD duplo disponível nas locadoras. Nesse média-metragem, podemos ver traços da história de outros trabalhadores de Gramacho. Alguns são idosos como Estamira e também têm história de “descuidos” na vida: são alcoólatras, foram abandonados pelos parceiros, não conseguem trabalho. Então, entende-se porque Estamira ficou melhor ao começar a frequentar o lixão – como conta a filha em determinado momento – encontrou um ambiente de companheirismo e cumplicidade, de pessoas que buscam a dignidade ao ganharem a vida.
Outro filme interessante sobre o lixo é Ilha das flores, curta-metragem de Jorge Furtado que já pode ser considerado clássico. O curta mostra a trajetória de um tomate que, plantado, colhido, vendido no supermercado e descartado pela compradora, vai parar no lixo. De lá, é selecionado pelos trabalhadores de uma fazenda para servir de comida aos porcos, enquanto o que sobra disso, o que é pior que um tomate podre, serve de comida a pessoas que não têm dono (como os porcos) ou não têm dinheiro (como o dono dos porcos ou os consumidores do supermercado). São esses os personagens de Estamira e, principalmente, de Estamira para todos e para ninguém: os sem dinheiro, os mal tratados, aqueles que, como diz Estamira, foram libertos, mas para quem não se deu nem trabalho nem terra.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&tipo=resenha&edicao=32
Comentário de Rafael Evangelista.
Estamira é uma senhora de 63 anos que divide sua vida entre um barraco na velha Rio-Santos e o Aterro de Gramacho, onde se aventura tentando separar o que encontra de aproveitável e os materiais irremediavelmente podres e inúteis que lá ficarão acumulados. É atormentada por distúrbios mentais que a fazem ouvir vozes, ver coisas e ter acessos quase descontrolados de fúria. Tem três filhos, dois deles criados em parte com o dinheiro conseguido no lixão.
Marcos Prado, diretor do documentário que toma emprestado o nome dessa mulher, a conheceu fazendo fotos em Gramacho. Em troca de posar para alguns instantâneos, Estamira pediu que o então fotógrafo sentasse a seu lado e com ela conversasse por alguns minutos. Foi o suficiente para que Prado ficasse fascinado com o que, mais tarde, chamou de “cosmologia de Estamira”: a visão de mundo, misturada com delírios e juízos da personagem, que se indigna contra o “trocadilo”, o “poderoso ao contrário” e que vê as estrelas e a Lua presentes aqui na Terra, sendo o céu apenas um reflexo, espelho do que está embaixo.
Não é um filme fácil. Os vinte primeiros minutos são dedicados exclusivamente aos delírios da personagem, tendo o lixão como cenário. Em belas cenas filmadas ora no preto e branco de uma Super 8, ora com o colorido vivo de uma câmera que parece publicitária, ouvimos a voz da personagem filosofar sobre o que se usa, o que se tem, o que se guarda e o que se joga fora, e vemos as primeiras imagens de seus companheiros de trabalho, outros idosos vivendo do lixo e com quem Estamira parece ter melhores relações do que com sua própria família.
É nesse início que encontramos, possivelmente, a chave para o filme. Diz Estamira sobre o que se encontra em Gramacho: “às vezes é só resto, às vezes vem, também, descuido”. Descobriremos depois que isso não vale apenas para os objetos que lá estão, mas também para as pessoas: no lixão circulam restos de vidas e pessoas que não foram cuidadas.
Marcos Prado nos leva então, vagarosamente, a entrar na história de vida e da loucura de Estamira. Foi levada a um prostíbulo pelas mãos do avô, aos 12 anos. Saída de lá aos 17 para casar-se, passou a ser traída pelo marido, após um breve período de estabilidade. Por meio de um novo casamento, foi parar no Rio de Janeiro. O novo marido, com quem teve o segundo filho, além de a trair, a fez internar em um hospício a própria mãe, também doente mental. Depois de intensas brigas com o marido, saiu de casa e sua primeira providência foi tirar a mãe do Hospital Pedro II, sanatório psiquiátrico reconhecido, até os anos 80, pelos maus tratos a seus pacientes. Foi, ainda, estuprada pelo menos duas vezes.
Depois disso tudo, passou a ter seus delírios. A mente parece ter encontrado uma trajetória de escape pelas alucinações. Sua grande revolta é contra Deus e a religião. As cenas em que grita intensamente contra o filho, o neto, ou qualquer pessoa que fale em religião causam mal estar. Estamira indigna-se contra quem não cuidou do mundo, que permite que tudo esteja ao contrário, o “poderoso ao contrário”. Diz ser comunista. Não que queira que todos tenham o mesmo trabalho e comam a mesma coisa, mas que exista igualdade.
São os momentos coléricos de Estamira contra a religião que quebram, por minutos, a estetização que o filme faz, mesmo que involuntariamente, do lixão e da loucura. O vento forte, a chuva, o imenso espaço tomado pelo lixo em Gramacho, oferecem ao diretor a matéria-prima para construir – para o espectador que está confortavelmente sentado em sua poltrona e que não sente o mau cheiro, a sensação de insegurança, o frio ou o calor do lugar real – imagens belíssimas. Do mesmo modo, a paixão e a intensidade com que Estamira defende sua “cosmologia”, fazem com que a loucura possa ser lida pelo espectador como genial, filosófica, verdadeira e essencial.
No documentário propriamente dito, o objeto não é o lixo, e sim a vida e as relações de Estamira. Para quem quer conhecer mais sobre o lugar de trabalho da personagem mais interessante (ou inerentemente complementar) é o média metragem Estamira para todos e para ninguém, incluído no DVD duplo disponível nas locadoras. Nesse média-metragem, podemos ver traços da história de outros trabalhadores de Gramacho. Alguns são idosos como Estamira e também têm história de “descuidos” na vida: são alcoólatras, foram abandonados pelos parceiros, não conseguem trabalho. Então, entende-se porque Estamira ficou melhor ao começar a frequentar o lixão – como conta a filha em determinado momento – encontrou um ambiente de companheirismo e cumplicidade, de pessoas que buscam a dignidade ao ganharem a vida.
Outro filme interessante sobre o lixo é Ilha das flores, curta-metragem de Jorge Furtado que já pode ser considerado clássico. O curta mostra a trajetória de um tomate que, plantado, colhido, vendido no supermercado e descartado pela compradora, vai parar no lixo. De lá, é selecionado pelos trabalhadores de uma fazenda para servir de comida aos porcos, enquanto o que sobra disso, o que é pior que um tomate podre, serve de comida a pessoas que não têm dono (como os porcos) ou não têm dinheiro (como o dono dos porcos ou os consumidores do supermercado). São esses os personagens de Estamira e, principalmente, de Estamira para todos e para ninguém: os sem dinheiro, os mal tratados, aqueles que, como diz Estamira, foram libertos, mas para quem não se deu nem trabalho nem terra.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&tipo=resenha&edicao=32
O uso criativo do lixo
Por Tereza Miriam Pires Nunes
Desde criança, fazer brinquedos e jogos com as tralhas do quintal, era um exercício natural com uma dúzia de irmãos, onde alguns eram mais criativos e ousados, outros mais intelectuais e reservados, mas todos interagiam proporcionando momentos riquíssimos de aprendizagem.
Lembro-me dos carrinhos de rolimã, patinete, casinhas de boneca com fogão de tijolos e fogo de verdade, jogo da trinca, trilha, velha, 5 pedrinhas (5 Marias), amarelinhas riscadas (ora com carvão, ora com caco de telha ou gesso de construção), queimada com bolas de meia ou jornal... O que não valia mesmo era ficar sem brincar.
Cresci re-utilizando roupas e tudo mais que meus dez irmãos mais velhos deixavam de usar. Muitas vezes, colocava um adereço na roupa ou no objeto que ficavam com aparência de novos, e a satisfação de fazer algo inédito não tinha preço.
Ao entrar no mundo da criança, percebo que não é preciso $$$$(dinheiro) para comprar todas as novidades que a mídia oferece. A criatividade usada num brinquedo e as coisas feitas com as próprias mãos são muitas vezes mais satisfatórias que ganhar um brinquedo caro, “bonito” e sem significado.
Se eu pudesse falar algo que tocasse os corações dos adultos, educadores e pais, eu diria que o que conta muito é com o que a criança brinca, como foi feito o brinquedo, o jogo e com quem foram partilhados esses momentos.
Valorizo muito o resgate de brinquedos e brincadeiras folclóricas, porque acredito que é um passo importante nos dias de hoje, já que brincar na “rua” tornou-se inviável e deve ser substituído pelo brincar na escola, no condomínio, no clube, na praça ou outro local.
Em 1980, dei início à minha profissão de professora na Prefeitura de Campinas e a realidade era uma carência de materiais que me instigava a buscar sucatas. Senti necessidade de recursos especiais, porque passei a trabalhar com crianças que apresentaram dificuldades de aprendizagem.
Virei a “Rainha da Sucata” em várias unidades escolares que trabalhei, muitas colegas compartilhavam as novidades e trocávamos experiências que deram certo. Empenhei meus esforços e dediquei-me ao reaproveitamento dos materiais descartados, porque percebi que isso valorizava meu trabalho pedagógico e hoje, não mais em sala de aula, ministro cursos para os educadores que usam a prática lúdica, trocando suas tentativas e experiências nesta maneira simples e criativa de fazer jogos, brinquedos, bandinhas, adereços, presentes e outras coisas mais, com a re-utilização de todo tipo de material.
Em 2003, fui convidada para integrar a equipe do Programa de Educação Ambiental da Secretaria de Educação, onde desenvolvi uma oficina: “Recriando com arte”, com brinquedos, jogos e bandinha de sucata. A criatividade não tem fim: Iniciei a montagem de uma eco-brinquedoteca itinerante e fui levando às escolas as idéias que colhia aqui e ali, por onde passava. Esta brincadeira virou coisa séria, aumentando de uma caixa de jogos, brinquedos e bandinha para 8 caixas bem equipadas.
Em 2005, participei de um grupo que se preocupava com a formação de Brinquedistas no Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp) oferecendo uma prática de aprender e fazer jogos e brinquedos de sucata. O público atendido era formado de pessoas entre 15 e 80 anos, analfabetos, universitários e de preferência de desempregados.
Tabuleiros feitos de tecido, jornal trançado, papel marché e papelão.Foto: Emile Emiachon
Aprendo todos os dias com todas as pessoas, com as crianças, professores e outros profissionais, e procuro aprender também em todas as circunstâncias do dia-a-dia.
Não crio nada. Tudo já existe e eu apenas modifico dando uma roupagem ou cara nova.
Manipulando os jogos e brinquedos, consigo visualizar a transdisciplinaridade deles. Com algumas adaptações, eles servirão como recurso pedagógico para aulas de história, inglês, geografia, física e todas outras matérias. Tenho até um simulado nos moldes daqueles feitos pela Unicamp cujo tema foi o lixo, feito no Cursinho ZAP, quando ocupei o cargo de coordenadora pedagógica.
Nos últimos dois anos, ministrei 7 turmas de eco-brinquedista e através de depoimentos e avaliações, posso afirmar que quem passa pelo curso “eco-brinquedista” percebe o lixo com outra conotação, e no dia-a-dia, muda seus hábitos, mostrando um carinho especial para cada coisa que descarta.
Aos olhos do mercado capitalista, eu sei que estou regredindo, porque procuro não consumir tanto e, ainda tento abrir os olhos de quem o faz. Virei uma catadora de lixo que não consegue passar perto de uma caçamba ou entulho sem esticar o olho e muitas vezes aproveitar coisas que lá não deveriam estar.
Mudei minha relação com o lixo, porque consegui ver nele duas coisas importantes:
- Grande problema da atualidade
- Solução possível
O primeiro caso acontece nas grandes metrópoles que já não têm onde colocar o lixo, alugando espaços em outros países e locais, encarecendo este serviço para a população.
O lixo é o vilão que polui água, ar e terra, mas só é tratado com desprezo, pois as pessoas misturam papéis com óleo, borra de café, papel higiênico sujo, curativos, cascas de frutas, frascos de vidros, recipientes de plástico, metais com os mais variados produtos, tornando-o inviável para a reciclagem.
No segundo caso, grande porcentagem do lixo não é lixo, podendo ser reutilizado e reciclado.
Pra mim o lixo brilha feito ouro, pois vejo nele a matéria prima para todo o trabalho que desenvolvo e milhões de toneladas desta matéria prima para infinitas utilidades.
A catação de lixo é atualmente um subemprego, mas que garante o sustento de milhares de famílias e ajuda na sustentabilidade do planeta. Campinas já tem mais de dois mil catadores independentes e 14 cooperativas. As cooperativas desenvolvem um trabalho mais humanitário, com carteira assinada e garantia de um preço melhor para o lixo que será reciclado.
Muitas pessoas pensam que reciclar o lixo é separá-lo em recipientes especiais para cada tipo de produto. Isto faz parte do que chamamos de coleta seletiva. A separação deste material é fundamental e é importante saber que do outro lado do nosso lixo tem um ser humano que se sustenta, sustenta a família e vive dele. Muitas vezes, conversando com os catadores e visitando as cooperativas, sinto compaixão por estas pessoas, sabendo por elas, que grande parte do lixo não é possível ser vendida. Isso por minha culpa, nossa culpa e, principalmente daqueles que mais produzem lixo e querem ficar livre dele de qualquer forma.
Conforme Al Gore: "Temos tudo o que precisamos para salvar a integridade de nosso planeta, exceto a vontade política".
Vimos no natal uma campanha milionária para reutilizar 1.200.000 garrafas pets, como enfeites da cidade de Campinas, e nunca vimos tal campanha para reciclagem das mesmas que obstruem bueiros, acumulam-se em terrenos baldios e são responsáveis por grande parte dos desastres ambientais urbanos.
Campinas possui 900T/dia de lixo sendo 3% deste total a porcentagem reciclada. Que vergonha! Eu também faço parte desta estatística e quero contribuir para aumentar a porcentagem de reciclagem em 2008.
Aos 56 anos de idade, 31 anos de magistério, nesse início do século XXI, em plena era das comunicações, eu me admiro e ao mesmo tempo fico surpresa quando percebo meu compromisso em afirmar que brincar é necessário para todos nós, saudável para a mente e corpo, pode ser um modo prazeroso de aprender e criar regras e burlá-las também, envolve diferentes linguagens (afetiva, espontânea, simbólica, imaginativa, universal, gestual, oral), é uma atividade inserida num universo cultural local e global. Tem importante potencial de criação e abertura para novos significados e relações com parceiros que também gostam de brincar, envolve os participantes em pura emoção, permite a interação de forma a possibilitar a compreensão entre as pessoas, sentimentos e os vários conhecimentos, conhecer e respeitar regras de convivência social, fazer escolhas (temas, papéis, objetos, parceiros, tipos de jogos) e sentir a sensação de liberdade, errar e aprender, refazer, repetir muitas vezes até esgotar-se, pensar e repensar conhecimentos. Brincar é tão antigo quanto a origem do ser humano. Brincar é pedagógico.
Tenho mania de continuar aprendendo e aprendendo com crianças. Certa vez, numa conversa que aconteceu em janeiro de 2006, no avião que seguia para Porto Alegre, do meu lado sentou-se uma menina de 7 anos com sua “filha” - uma boneca. Ela colocou o cinto de segurança na “filha” e depois nela, aí olhou em volta e procurando conversa, me perguntou:
- Como você se chama?
- Sou Zamira e você?
- Larissa. Para onde você está indo?
- Vou fazer um curso de brinquedista na Universidade Federal de Porto Alegre.
- O que é isso?
- É um curso para que eu aprenda a brincar. Depois vou ensinar às professoras e monitoras a brincar, e elas ensinarão às crianças.
Ela ficou séria, pensativa e logo em seguida, sorrindo, completou.
- Mas não precisa! Criança já brinca!
Aquela afirmação me paralisou por momentos, fiquei sem palavras... Passei a refletir muito esta verdade incontestável! E me faz perguntar: porque estudar tanto sobre o brincar?
Desde então, cada vez mais, busco compreender os processos e mecanismos pelo qual o ser humano aprende, e como o brincar pode contribuir na formação de cada ser. Estou comprometida no aprofundamento e nas pesquisas que visam ajudar com o processo de ensino/aprendizagem.
Os jogos e brinquedos são divulgados pela Apostila Virtual e faço questão que usem, abusem e divulguem todo o material que apresento. Os interessados na Apostila podem escrever para zamiranunes@gmail.com.
Tereza Miriam Pires Nunes é professora da rede municipal de Campinas (SP) e integrante do Plano Municipal de Educação Ambiental.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=32&id=372
Desde criança, fazer brinquedos e jogos com as tralhas do quintal, era um exercício natural com uma dúzia de irmãos, onde alguns eram mais criativos e ousados, outros mais intelectuais e reservados, mas todos interagiam proporcionando momentos riquíssimos de aprendizagem.
Lembro-me dos carrinhos de rolimã, patinete, casinhas de boneca com fogão de tijolos e fogo de verdade, jogo da trinca, trilha, velha, 5 pedrinhas (5 Marias), amarelinhas riscadas (ora com carvão, ora com caco de telha ou gesso de construção), queimada com bolas de meia ou jornal... O que não valia mesmo era ficar sem brincar.
Cresci re-utilizando roupas e tudo mais que meus dez irmãos mais velhos deixavam de usar. Muitas vezes, colocava um adereço na roupa ou no objeto que ficavam com aparência de novos, e a satisfação de fazer algo inédito não tinha preço.
Ao entrar no mundo da criança, percebo que não é preciso $$$$(dinheiro) para comprar todas as novidades que a mídia oferece. A criatividade usada num brinquedo e as coisas feitas com as próprias mãos são muitas vezes mais satisfatórias que ganhar um brinquedo caro, “bonito” e sem significado.
Se eu pudesse falar algo que tocasse os corações dos adultos, educadores e pais, eu diria que o que conta muito é com o que a criança brinca, como foi feito o brinquedo, o jogo e com quem foram partilhados esses momentos.
Valorizo muito o resgate de brinquedos e brincadeiras folclóricas, porque acredito que é um passo importante nos dias de hoje, já que brincar na “rua” tornou-se inviável e deve ser substituído pelo brincar na escola, no condomínio, no clube, na praça ou outro local.
Em 1980, dei início à minha profissão de professora na Prefeitura de Campinas e a realidade era uma carência de materiais que me instigava a buscar sucatas. Senti necessidade de recursos especiais, porque passei a trabalhar com crianças que apresentaram dificuldades de aprendizagem.
Virei a “Rainha da Sucata” em várias unidades escolares que trabalhei, muitas colegas compartilhavam as novidades e trocávamos experiências que deram certo. Empenhei meus esforços e dediquei-me ao reaproveitamento dos materiais descartados, porque percebi que isso valorizava meu trabalho pedagógico e hoje, não mais em sala de aula, ministro cursos para os educadores que usam a prática lúdica, trocando suas tentativas e experiências nesta maneira simples e criativa de fazer jogos, brinquedos, bandinhas, adereços, presentes e outras coisas mais, com a re-utilização de todo tipo de material.
Em 2003, fui convidada para integrar a equipe do Programa de Educação Ambiental da Secretaria de Educação, onde desenvolvi uma oficina: “Recriando com arte”, com brinquedos, jogos e bandinha de sucata. A criatividade não tem fim: Iniciei a montagem de uma eco-brinquedoteca itinerante e fui levando às escolas as idéias que colhia aqui e ali, por onde passava. Esta brincadeira virou coisa séria, aumentando de uma caixa de jogos, brinquedos e bandinha para 8 caixas bem equipadas.
Em 2005, participei de um grupo que se preocupava com a formação de Brinquedistas no Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp) oferecendo uma prática de aprender e fazer jogos e brinquedos de sucata. O público atendido era formado de pessoas entre 15 e 80 anos, analfabetos, universitários e de preferência de desempregados.
Tabuleiros feitos de tecido, jornal trançado, papel marché e papelão.Foto: Emile Emiachon
Aprendo todos os dias com todas as pessoas, com as crianças, professores e outros profissionais, e procuro aprender também em todas as circunstâncias do dia-a-dia.
Não crio nada. Tudo já existe e eu apenas modifico dando uma roupagem ou cara nova.
Manipulando os jogos e brinquedos, consigo visualizar a transdisciplinaridade deles. Com algumas adaptações, eles servirão como recurso pedagógico para aulas de história, inglês, geografia, física e todas outras matérias. Tenho até um simulado nos moldes daqueles feitos pela Unicamp cujo tema foi o lixo, feito no Cursinho ZAP, quando ocupei o cargo de coordenadora pedagógica.
Nos últimos dois anos, ministrei 7 turmas de eco-brinquedista e através de depoimentos e avaliações, posso afirmar que quem passa pelo curso “eco-brinquedista” percebe o lixo com outra conotação, e no dia-a-dia, muda seus hábitos, mostrando um carinho especial para cada coisa que descarta.
Aos olhos do mercado capitalista, eu sei que estou regredindo, porque procuro não consumir tanto e, ainda tento abrir os olhos de quem o faz. Virei uma catadora de lixo que não consegue passar perto de uma caçamba ou entulho sem esticar o olho e muitas vezes aproveitar coisas que lá não deveriam estar.
Mudei minha relação com o lixo, porque consegui ver nele duas coisas importantes:
- Grande problema da atualidade
- Solução possível
O primeiro caso acontece nas grandes metrópoles que já não têm onde colocar o lixo, alugando espaços em outros países e locais, encarecendo este serviço para a população.
O lixo é o vilão que polui água, ar e terra, mas só é tratado com desprezo, pois as pessoas misturam papéis com óleo, borra de café, papel higiênico sujo, curativos, cascas de frutas, frascos de vidros, recipientes de plástico, metais com os mais variados produtos, tornando-o inviável para a reciclagem.
No segundo caso, grande porcentagem do lixo não é lixo, podendo ser reutilizado e reciclado.
Pra mim o lixo brilha feito ouro, pois vejo nele a matéria prima para todo o trabalho que desenvolvo e milhões de toneladas desta matéria prima para infinitas utilidades.
A catação de lixo é atualmente um subemprego, mas que garante o sustento de milhares de famílias e ajuda na sustentabilidade do planeta. Campinas já tem mais de dois mil catadores independentes e 14 cooperativas. As cooperativas desenvolvem um trabalho mais humanitário, com carteira assinada e garantia de um preço melhor para o lixo que será reciclado.
Muitas pessoas pensam que reciclar o lixo é separá-lo em recipientes especiais para cada tipo de produto. Isto faz parte do que chamamos de coleta seletiva. A separação deste material é fundamental e é importante saber que do outro lado do nosso lixo tem um ser humano que se sustenta, sustenta a família e vive dele. Muitas vezes, conversando com os catadores e visitando as cooperativas, sinto compaixão por estas pessoas, sabendo por elas, que grande parte do lixo não é possível ser vendida. Isso por minha culpa, nossa culpa e, principalmente daqueles que mais produzem lixo e querem ficar livre dele de qualquer forma.
Conforme Al Gore: "Temos tudo o que precisamos para salvar a integridade de nosso planeta, exceto a vontade política".
Vimos no natal uma campanha milionária para reutilizar 1.200.000 garrafas pets, como enfeites da cidade de Campinas, e nunca vimos tal campanha para reciclagem das mesmas que obstruem bueiros, acumulam-se em terrenos baldios e são responsáveis por grande parte dos desastres ambientais urbanos.
Campinas possui 900T/dia de lixo sendo 3% deste total a porcentagem reciclada. Que vergonha! Eu também faço parte desta estatística e quero contribuir para aumentar a porcentagem de reciclagem em 2008.
Aos 56 anos de idade, 31 anos de magistério, nesse início do século XXI, em plena era das comunicações, eu me admiro e ao mesmo tempo fico surpresa quando percebo meu compromisso em afirmar que brincar é necessário para todos nós, saudável para a mente e corpo, pode ser um modo prazeroso de aprender e criar regras e burlá-las também, envolve diferentes linguagens (afetiva, espontânea, simbólica, imaginativa, universal, gestual, oral), é uma atividade inserida num universo cultural local e global. Tem importante potencial de criação e abertura para novos significados e relações com parceiros que também gostam de brincar, envolve os participantes em pura emoção, permite a interação de forma a possibilitar a compreensão entre as pessoas, sentimentos e os vários conhecimentos, conhecer e respeitar regras de convivência social, fazer escolhas (temas, papéis, objetos, parceiros, tipos de jogos) e sentir a sensação de liberdade, errar e aprender, refazer, repetir muitas vezes até esgotar-se, pensar e repensar conhecimentos. Brincar é tão antigo quanto a origem do ser humano. Brincar é pedagógico.
Tenho mania de continuar aprendendo e aprendendo com crianças. Certa vez, numa conversa que aconteceu em janeiro de 2006, no avião que seguia para Porto Alegre, do meu lado sentou-se uma menina de 7 anos com sua “filha” - uma boneca. Ela colocou o cinto de segurança na “filha” e depois nela, aí olhou em volta e procurando conversa, me perguntou:
- Como você se chama?
- Sou Zamira e você?
- Larissa. Para onde você está indo?
- Vou fazer um curso de brinquedista na Universidade Federal de Porto Alegre.
- O que é isso?
- É um curso para que eu aprenda a brincar. Depois vou ensinar às professoras e monitoras a brincar, e elas ensinarão às crianças.
Ela ficou séria, pensativa e logo em seguida, sorrindo, completou.
- Mas não precisa! Criança já brinca!
Aquela afirmação me paralisou por momentos, fiquei sem palavras... Passei a refletir muito esta verdade incontestável! E me faz perguntar: porque estudar tanto sobre o brincar?
Desde então, cada vez mais, busco compreender os processos e mecanismos pelo qual o ser humano aprende, e como o brincar pode contribuir na formação de cada ser. Estou comprometida no aprofundamento e nas pesquisas que visam ajudar com o processo de ensino/aprendizagem.
Os jogos e brinquedos são divulgados pela Apostila Virtual e faço questão que usem, abusem e divulguem todo o material que apresento. Os interessados na Apostila podem escrever para zamiranunes@gmail.com.
Tereza Miriam Pires Nunes é professora da rede municipal de Campinas (SP) e integrante do Plano Municipal de Educação Ambiental.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=32&id=372
Belo: a breve história de uma idéia
Por Taisa Helena P. Palhares
Se alguém em nossos dias quisesse descobrir na produção artística contemporânea a manifestação dos conceitos de beleza forjados por nossa cultura, sua tarefa com certeza seria malograda. Sua busca teria maior sucesso se analisasse os cartazes publicitários, as revistas, as produções televisivas, a moda, ou seja, se recorresse a toda produção do mass media, pois há muito tempo a Arte deixou de ter a supremacia neste assunto. Tentar alcançar hoje uma noção mais ou menos nítida de Belo não implica, como na época moderna, voltar-se para as artes.
Essa situação revela algo que na maior parte do tempo é esquecido pelo senso comum: tanto a Arte quanto o Belo são categorias históricas. E mais, a noção tão difundida de Belas-Artes só se consolida nos século XVIII e XIX. No mundo antigo, a arte é, enquanto techné, qualquer atividade humana que implica um determinado saber fazer ordenado, uma habilidade característica para execução de uma coisa. O que distingue, por exemplo, a pintura da agricultura neste caso é que a primeira é uma arte da imitação, enquanto a segunda é produtiva. Para Platão, quem imita não possui um saber propriamente dito, logo sua arte nem será verdadeiramente uma arte. Além disso, o pintor e o escultor imitam sobretudo a aparência das coisas, dos seres vivos, da natureza. Eles produzem uma representação distorcida daquilo que em si já é uma imagem das Idéias, cujo conhecimento só pode se dar mediante o pensamento racional. Como conseqüência, em sua república ideal o filósofo grego resolve banir todos os artistas imitativos.
Por outro lado, durante a Antigüidade e Idade Média se constrói uma rica metafísica do Belo que será fundamental para compreensão do Belo artístico a partir do Renascimento. Sob influência do pensamento de Pitágoras, para quem o princípio de todas as coisas é o número, o Belo será associado a conceitos como ordem, proporção, harmonia, simetria e forma. Do mesmo modo que um corpo belo ou uma bela flor revelam a ordenação matemática do mundo, o belo na arte deve guiar-se pela proporção matemática e pela simetria. Para tradição pitagórica, o exemplo a ser seguido é o do belo natural: a harmonia do cosmo e da natureza.
Uma outra relação importante efetuada pelos antigos é a associação entre o conceito de Belo e as noções de Verdade e Bem. Nesse sentido, será belo tudo o que é verdadeiro, justo e bom. Para o pensamento cristão, Deus como a Verdade e o Bem em si, é também identificado ao Belo em si. A corporificação da beleza no mundo nada mais é do que a manifestação da divindade. Essas breves observações apontam para o valor ontológico do belo no pensamento pré-moderno. A qualificação estética do belo representa, na história ocidental das idéias, uma desvalorização de sua valência original.
Contudo, há de se notar que a exigência de observação do belo natural como origem do belo artístico já vinha sendo questionada por alguns pensadores. Durante o Renascimento, torna-se muito popular e comentada a seguinte história sobre o pintor Zêuxis: tendo de representar Helena, ele reúne cinco jovens belas e escolhe de cada uma os aspectos mais belos, compondo-os numa imagem que não tem equivalência na natureza. Por outro lado, Cícero explica que Fídias, ao esculpir seu Zeus, não se baseava em um indivíduo real, mas numa idéia de beleza presente em sua mente. Segundo Plotino, as artes não imitam as coisas visíveis, antes se elevam às formas ideais, das quais decorre a própria natureza. As discussões sobre essas histórias indicam o movimento, fundamental para compreender a concepção de Arte do Renascimento, de valorização da atividade artística como cosa mentale, como disse Leornado da Vinci, em primeiro lugar, e da relação intrínseca entre belo e arte. Na verdade, a partir de agora, o artista deve se basear em uma Idea, uma forma a priori, ou no Cânone, obra na qual se encarnam todas as regras da arte, como uma espécie de lei. A produção pictórica de Rafael é o exemplo mais cabal desses pensamentos, o grande arquétipo de todo Classicismo posterior, no qual vingará de vez o conceito de Belo Ideal (Rafael, Nossa Senhora Sistina, 1513-14, Gemäldegalerie, Dresden).
Uma das mais importantes transformações na história do pensamento sobre o belo artístico no Ocidente ocorre no final do século XVIII com o livro Crítica da Faculdade do Juízo (1790) do filósofo Immanuel Kant. Nele, Kant dá forma cabal a uma nova sensibilidade que tentava entender o papel do gosto no julgamento artístico. Neste momento, o belo, que antes era um atributo das coisas ou das obras de arte, passa a ser a experiência de um prazer desinteressado. Essa guinada subjetiva do conceito irá alimentar grande parte da estética e da arte modernas. Ela representa também o ocaso definitivo das poéticas dogmáticas e seus cânones acadêmicos.
Paralelamente, outros valores conquistam legitimidade no campo artístico. Tudo o que parecia ter sido condenado pelo ideal clássico começa a receber uma nova avaliação: o informe, o grotesco, o estranho, o tenebroso, o feio, o diferente, o ilimitado, o desproporcional, o obscuro são defendidos enquanto possíveis valores estéticos. O Belo vai perdendo espaço para noção de Sublime no espírito dos artistas. Não que esses atributos tenham ficado ausentes da história da arte até então. Basta pensarmos nos movimentos maneirista e barroco, em Caravaggio e Rembrandt, para citarmos dois exemplos mais conhecidos. Ambos transgrediram as convenções e costumes em suas figuras realistas muitas vezes disformes nas quais se reconhece uma busca da verdade e o desprezo pelo ideal canônico de beleza (imagens). Não por acaso, eles estabeleceram afinidades com o trabalho dos pintores do século XIX.
É exatamente na segunda metade daquele século que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche irá teorizar, em O Nascimento da tragédia no espírito da música, sobre a duplicidade constitutiva da cultura ocidental. Para ele, já no espírito grego, coloca-se a oposição entre um impulso comtemplativo-formal (o apolíneo) e um doloroso e obscuro impulso dissoluto-extático (o dionisíaco). No mesmo momento, o Romantismo procura, no que provavelmente representa a última grande teorização sobre o conceito de Belo artístico, acolher numa espécie de co-presença essas oposições. Para concepção romântica de beleza finito e infinito, vida e morte, eterno e transitório, totalidade e fragmento, razão e coração são qualidades que devem conviver em dinamismo constante na obra de arte. O poeta e crítico de arte francês Charles Baudelaire é quem de forma lapidar apresenta essa nova concepção de beleza no ensaio O pintor da vida moderna: “O belo é sempre e inevitavelmente uma dupla composição, ainda que a impressão que ele produz seja uma só (...) é feito de um elemento eterno, invariável, cuja quantidade é extremamente difícil de ser determinada, e de um elemento relativo, circunstancial, que será, vamos dizer assim, sucessivamente ou tudo junto, a época, a moda, a moral e a paixão. Sem esse segundo elemento, que representa algo como a cobertura divertida, saltitante, aperitiva, do divino bolo, o primeiro elemento seria indigesto, impossível de ser apreciado, não adaptado e não apropriado à natureza humana. Duvido que se encontre uma amostra qualquer de beleza que não possua esses dois elementos”. Pois, “o belo é sempre bizarro”, ele “contém sempre um pouco de estranheza, que o faz ser particularmente Belo”, afirma o poeta em outro momento.
O pintor E. Manet será o responsável por dar corpo a essa noção de beleza em sua Vênus moderna, Olympia, pintada em 1863. Provocador, Manet retoma o cânone clássico da Vênus de Urbino de Ticiano para metamorfoseá-la na figura de uma mulher venal. Nessa tela, a beleza desce de seu céu metafísico, transcendente, para habitar as coisas mais prosaicas e mundanas. Obra-manifesto, Olympia é definitivamente o maior ícone da beleza moderna.
No século XX, o conceito de belo é definitivamente desvalorizado no âmbito da arte (e provavelmente por esse motivo tenha migrado para outras “regiões”). O que não significa que o público tenha abdicado completamente de uma noção conservadora de beleza em seus julgamentos estéticos. Na verdade, é conhecida a péssima recepção que as pinturas de H. Matisse encontravam em sua época. Após a primeira apresentação pública de uma de suas obras-primas, Dança (II) (1910), a reação foi de espanto e horror, sendo que os adjetivos utilizados para classificá-la foram: primitiva, grotesca, diabólica, bárbara e canibalesca (naturalmente em sentido pejorativo).
Evidentemente, uma história de mais de dois mil anos não pode ser apagada da noite para o dia. Quando afirmamos que o Belo se enfraquece enquanto valor estético ou idéia reguladora não quer dizer que ele não esteja presente aqui e acolá. Contudo, o que parece não existir é uma nova concepção, algo que seja próprio do momento contemporâneo. O que há sim, é uma restituição de algumas das idéias forjadas no decorrer da história. Uma espécie de sobrevida que irrompe nos locais os mais inesperados (pensa-se aqui, por exemplo, na arte abstrato-geométrica de Mondrian). Voltando ao nosso inquiridor inicial, talvez o grande desafio fosse refletir, a partir da produção exemplar de um artista contemporâneo como é o caso do norte-americano Matthew Barney, sobre os caminhos às vezes inusuais da sensibilidade atual, habituada ao poder de recriação e modificação sem limites das formas naturais, neste caso do próprio corpo humano.
Taisa Helena P. Palhares é graduada em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde desenvolve tese de doutoramento desde 2005. Recentemente publicou o livro Aura: a crise da arte em Walter Benjamin (Editora Barracuda, Fapesp, 2006).
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=15&id=145
Se alguém em nossos dias quisesse descobrir na produção artística contemporânea a manifestação dos conceitos de beleza forjados por nossa cultura, sua tarefa com certeza seria malograda. Sua busca teria maior sucesso se analisasse os cartazes publicitários, as revistas, as produções televisivas, a moda, ou seja, se recorresse a toda produção do mass media, pois há muito tempo a Arte deixou de ter a supremacia neste assunto. Tentar alcançar hoje uma noção mais ou menos nítida de Belo não implica, como na época moderna, voltar-se para as artes.
Essa situação revela algo que na maior parte do tempo é esquecido pelo senso comum: tanto a Arte quanto o Belo são categorias históricas. E mais, a noção tão difundida de Belas-Artes só se consolida nos século XVIII e XIX. No mundo antigo, a arte é, enquanto techné, qualquer atividade humana que implica um determinado saber fazer ordenado, uma habilidade característica para execução de uma coisa. O que distingue, por exemplo, a pintura da agricultura neste caso é que a primeira é uma arte da imitação, enquanto a segunda é produtiva. Para Platão, quem imita não possui um saber propriamente dito, logo sua arte nem será verdadeiramente uma arte. Além disso, o pintor e o escultor imitam sobretudo a aparência das coisas, dos seres vivos, da natureza. Eles produzem uma representação distorcida daquilo que em si já é uma imagem das Idéias, cujo conhecimento só pode se dar mediante o pensamento racional. Como conseqüência, em sua república ideal o filósofo grego resolve banir todos os artistas imitativos.
Por outro lado, durante a Antigüidade e Idade Média se constrói uma rica metafísica do Belo que será fundamental para compreensão do Belo artístico a partir do Renascimento. Sob influência do pensamento de Pitágoras, para quem o princípio de todas as coisas é o número, o Belo será associado a conceitos como ordem, proporção, harmonia, simetria e forma. Do mesmo modo que um corpo belo ou uma bela flor revelam a ordenação matemática do mundo, o belo na arte deve guiar-se pela proporção matemática e pela simetria. Para tradição pitagórica, o exemplo a ser seguido é o do belo natural: a harmonia do cosmo e da natureza.
Uma outra relação importante efetuada pelos antigos é a associação entre o conceito de Belo e as noções de Verdade e Bem. Nesse sentido, será belo tudo o que é verdadeiro, justo e bom. Para o pensamento cristão, Deus como a Verdade e o Bem em si, é também identificado ao Belo em si. A corporificação da beleza no mundo nada mais é do que a manifestação da divindade. Essas breves observações apontam para o valor ontológico do belo no pensamento pré-moderno. A qualificação estética do belo representa, na história ocidental das idéias, uma desvalorização de sua valência original.
Contudo, há de se notar que a exigência de observação do belo natural como origem do belo artístico já vinha sendo questionada por alguns pensadores. Durante o Renascimento, torna-se muito popular e comentada a seguinte história sobre o pintor Zêuxis: tendo de representar Helena, ele reúne cinco jovens belas e escolhe de cada uma os aspectos mais belos, compondo-os numa imagem que não tem equivalência na natureza. Por outro lado, Cícero explica que Fídias, ao esculpir seu Zeus, não se baseava em um indivíduo real, mas numa idéia de beleza presente em sua mente. Segundo Plotino, as artes não imitam as coisas visíveis, antes se elevam às formas ideais, das quais decorre a própria natureza. As discussões sobre essas histórias indicam o movimento, fundamental para compreender a concepção de Arte do Renascimento, de valorização da atividade artística como cosa mentale, como disse Leornado da Vinci, em primeiro lugar, e da relação intrínseca entre belo e arte. Na verdade, a partir de agora, o artista deve se basear em uma Idea, uma forma a priori, ou no Cânone, obra na qual se encarnam todas as regras da arte, como uma espécie de lei. A produção pictórica de Rafael é o exemplo mais cabal desses pensamentos, o grande arquétipo de todo Classicismo posterior, no qual vingará de vez o conceito de Belo Ideal (Rafael, Nossa Senhora Sistina, 1513-14, Gemäldegalerie, Dresden).
Uma das mais importantes transformações na história do pensamento sobre o belo artístico no Ocidente ocorre no final do século XVIII com o livro Crítica da Faculdade do Juízo (1790) do filósofo Immanuel Kant. Nele, Kant dá forma cabal a uma nova sensibilidade que tentava entender o papel do gosto no julgamento artístico. Neste momento, o belo, que antes era um atributo das coisas ou das obras de arte, passa a ser a experiência de um prazer desinteressado. Essa guinada subjetiva do conceito irá alimentar grande parte da estética e da arte modernas. Ela representa também o ocaso definitivo das poéticas dogmáticas e seus cânones acadêmicos.
Paralelamente, outros valores conquistam legitimidade no campo artístico. Tudo o que parecia ter sido condenado pelo ideal clássico começa a receber uma nova avaliação: o informe, o grotesco, o estranho, o tenebroso, o feio, o diferente, o ilimitado, o desproporcional, o obscuro são defendidos enquanto possíveis valores estéticos. O Belo vai perdendo espaço para noção de Sublime no espírito dos artistas. Não que esses atributos tenham ficado ausentes da história da arte até então. Basta pensarmos nos movimentos maneirista e barroco, em Caravaggio e Rembrandt, para citarmos dois exemplos mais conhecidos. Ambos transgrediram as convenções e costumes em suas figuras realistas muitas vezes disformes nas quais se reconhece uma busca da verdade e o desprezo pelo ideal canônico de beleza (imagens). Não por acaso, eles estabeleceram afinidades com o trabalho dos pintores do século XIX.
É exatamente na segunda metade daquele século que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche irá teorizar, em O Nascimento da tragédia no espírito da música, sobre a duplicidade constitutiva da cultura ocidental. Para ele, já no espírito grego, coloca-se a oposição entre um impulso comtemplativo-formal (o apolíneo) e um doloroso e obscuro impulso dissoluto-extático (o dionisíaco). No mesmo momento, o Romantismo procura, no que provavelmente representa a última grande teorização sobre o conceito de Belo artístico, acolher numa espécie de co-presença essas oposições. Para concepção romântica de beleza finito e infinito, vida e morte, eterno e transitório, totalidade e fragmento, razão e coração são qualidades que devem conviver em dinamismo constante na obra de arte. O poeta e crítico de arte francês Charles Baudelaire é quem de forma lapidar apresenta essa nova concepção de beleza no ensaio O pintor da vida moderna: “O belo é sempre e inevitavelmente uma dupla composição, ainda que a impressão que ele produz seja uma só (...) é feito de um elemento eterno, invariável, cuja quantidade é extremamente difícil de ser determinada, e de um elemento relativo, circunstancial, que será, vamos dizer assim, sucessivamente ou tudo junto, a época, a moda, a moral e a paixão. Sem esse segundo elemento, que representa algo como a cobertura divertida, saltitante, aperitiva, do divino bolo, o primeiro elemento seria indigesto, impossível de ser apreciado, não adaptado e não apropriado à natureza humana. Duvido que se encontre uma amostra qualquer de beleza que não possua esses dois elementos”. Pois, “o belo é sempre bizarro”, ele “contém sempre um pouco de estranheza, que o faz ser particularmente Belo”, afirma o poeta em outro momento.
O pintor E. Manet será o responsável por dar corpo a essa noção de beleza em sua Vênus moderna, Olympia, pintada em 1863. Provocador, Manet retoma o cânone clássico da Vênus de Urbino de Ticiano para metamorfoseá-la na figura de uma mulher venal. Nessa tela, a beleza desce de seu céu metafísico, transcendente, para habitar as coisas mais prosaicas e mundanas. Obra-manifesto, Olympia é definitivamente o maior ícone da beleza moderna.
No século XX, o conceito de belo é definitivamente desvalorizado no âmbito da arte (e provavelmente por esse motivo tenha migrado para outras “regiões”). O que não significa que o público tenha abdicado completamente de uma noção conservadora de beleza em seus julgamentos estéticos. Na verdade, é conhecida a péssima recepção que as pinturas de H. Matisse encontravam em sua época. Após a primeira apresentação pública de uma de suas obras-primas, Dança (II) (1910), a reação foi de espanto e horror, sendo que os adjetivos utilizados para classificá-la foram: primitiva, grotesca, diabólica, bárbara e canibalesca (naturalmente em sentido pejorativo).
Evidentemente, uma história de mais de dois mil anos não pode ser apagada da noite para o dia. Quando afirmamos que o Belo se enfraquece enquanto valor estético ou idéia reguladora não quer dizer que ele não esteja presente aqui e acolá. Contudo, o que parece não existir é uma nova concepção, algo que seja próprio do momento contemporâneo. O que há sim, é uma restituição de algumas das idéias forjadas no decorrer da história. Uma espécie de sobrevida que irrompe nos locais os mais inesperados (pensa-se aqui, por exemplo, na arte abstrato-geométrica de Mondrian). Voltando ao nosso inquiridor inicial, talvez o grande desafio fosse refletir, a partir da produção exemplar de um artista contemporâneo como é o caso do norte-americano Matthew Barney, sobre os caminhos às vezes inusuais da sensibilidade atual, habituada ao poder de recriação e modificação sem limites das formas naturais, neste caso do próprio corpo humano.
Taisa Helena P. Palhares é graduada em Filosofia pela Universidade de São Paulo, onde desenvolve tese de doutoramento desde 2005. Recentemente publicou o livro Aura: a crise da arte em Walter Benjamin (Editora Barracuda, Fapesp, 2006).
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=15&id=145
Outro sistema é possível?
Reportagem de Marina Mezzacappa
O consumo excessivo é apontado pelo movimento ambientalista como o grande responsável pela pressão sobre os recursos naturais. Mesmo fora do movimento, é praticamente consensual que a manutenção dos padrões atuais de consumo levará ao esgotamento dos recursos do planeta em um futuro não muito distante. Diante desse prognóstico, a alteração no modo de consumir é apontada como única solução. Surge daí a questão: outro consumo é possível? Visto que o consumo não é apenas uma questão de hábitos e comportamentos dos consumidores, mas de produção, políticas de desenvolvimento, produtos disponíveis, cultura de consumo, outra questão emerge: outro sistema é possível?
Algumas mudanças relacionadas ao consumo estão em curso, ainda que muitas vezes representem intervenções pontuais. Aparelhos que consomem menos energia, reuso da água, reciclagem de papel e de outros materiais, substituição das sacolas plásticas descartáveis por outras de pano e a aposta nos biocombustíveis são alguns dos exemplos. “Os alertas sobre a crise ambiental percorrem décadas e estão aí alguns resultados, como políticas públicas, ONGs e iniciativas de educação ambiental”, afirma Aloisio Ruscheinsky, sociólogo e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Diversas organizações foram criadas visando conscientizar a população sobre a necessidade de um consumo consciente, como o Instituto Akatu, e muitas outras aderiram à causa, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz (Vitae Civilis).
Contudo, ainda não houve uma mudança estrutural nos padrões de consumo. A sociedade de consumo parece se retroalimentar e demonstra uma capacidade de influência muito superior a das instituições e vozes que preconizam alterações profundas. “Quem detém mais poder? A mídia, sustentada pela propaganda, instigando o consumo ou os obstinados ambientalistas?”, questiona Ruscheinsky. “As vozes de crítica ao consumo em massa têm sido ainda marginais ao processo social e mesmo dentro da academia e da produção do conhecimento”, completa.
Para Pedro Roberto Jacobi, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Teia- Laboratório de Educação e Ambiente, a lógica atual de consumo transcende ideologias e governos. Por outro lado, consumir também passou a significar muito mais do que apenas suprir necessidades. “O ‘status' da pessoa é, muitas vezes, medido pelo que consome e não pelo que possa ser necessário e útil em sua vida”, lembra Silvia Aparecida Guarnieri Ortigoza, geógrafa e professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, em seu artigo “Consumo sustentável: um compromisso de todos”. As profundas transformações, necessárias para garantir a sustentabilidade, encontram grandes obstáculos nessa sociedade em que o consumo está fortemente arraigado e na qual as pessoas estão constantemente insatisfeitas e são regidas justamente pela busca incessante da satisfação de todos os seus desejos.
Novos modelos
Apesar das dificuldades para efetivarem-se, novas formas de consumir são consideradas viáveis por quem as defende. “O Akatu só existe porque acredita que um outro consumo é possível”, enfatiza Raquel Diniz, coordenadora da área de capacitação comunitária do Instituto. Segundo ela, esse outro modelo possível baseia-se na consciência dos impactos gerados pelo consumo e dos limites dos recursos do planeta e na reflexão sobre valores e responsabilidades. Contudo, Ana Lucia Cortegoso, psicóloga, doutora em psicologia da educação e professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), considera que ainda é incipiente e insuficiente o nível de percepção que a humanidade tem da relação entre as ações individuais e os problemas globais.
Muitos grupos lutam para reverter esse quadro e diversas expressões foram cunhadas para se referir a esses novos modos de consumir: consumo sustentável, consumo ético, consumo responsável, consumo consciente, entre outras. Em geral, todas evidenciam o papel decisivo das escolhas do consumidor, que deve optar por suprir suas necessidades sem comprometer a capacidade do planeta de fornecer recursos naturais para as gerações futuras e de absorver os impactos negativos provocados pela produção, utilização e descarte dos produtos. Para que isso aconteça, de acordo com Jacobi, alguns paradigmas da sociedade industrial terão de ser repensados, como o uso intensivo de energia e insumos. “O consumo sustentável implica necessariamente numa politização do consumo”, afirma. Para ele, esse modelo transcende as mudanças comportamentais ou apelos mercadológicos orientados aos consumidores individuais, enfatizando uma escala de valores que rompe com a lógica mercadorizada.
“Queremos despertar o consumidor para o seu papel de protagonista na mudança do consumo”, explica Diniz. Por isso, o Akatu aposta no consumidor consciente como multiplicador desse ideal e agente indutor de políticas públicas e ações empresariais. “As pessoas acham que são impotentes e que sozinhas não vão mudar nada. O grande desafio é fazer com que elas entendam seu papel e saiam do automático na hora de consumir”, avalia ela. Para “sair do automático”, segundo Cortegoso, os consumidores precisam compreender o que os motiva para o consumo e atuar sobre essas motivações.
Para Diniz, a partir daí, o primeiro passo é reconhecer que cada ato de consumo gera um impacto. “Muitas pessoas esquecem, mas para fabricar e transportar qualquer tipo de produto, gasta-se água e energia”, pontua. Refletir sobre esses impactos é o primeiro dos 4 Rs, que englobam também reduzir, reutilizar e reciclar. “Deve-se educar primeiramente para a redução, afinal nem tudo que consumimos é realmente uma necessidade”, aponta Ortigoza, lembrando que é preciso distinguir as necessidades “reais” daquelas “criadas” pela mídia.
Contudo, apenas modificar os hábitos de consumo a fim de reduzir os efeitos ambientais negativos não basta. É preciso diminuir a pressão sobre os recursos naturais. “É necessário termos a habilidade de buscar o equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível”, salienta o ativista holandês Manus van Brakel em seu artigo “Os desafios das políticas de consumo sustentável”. Para ele, a busca de um benefício social máximo a partir da utilização mínima dos recursos naturais requer uma espécie de revolução industrial ecológica “que leva a transportes bem menos intensivos no uso de energia, a uma maior utilização de recursos secundários do que primários, a produtos mais facilmente reparáveis e a uma agricultura com baixo nível de insumos externos”.
Outros atores
Além dos próprios consumidores, outros atores precisam mobilizar-se para garantir uma troca de paradigma. “A sustentabilidade se garante por meio de mudanças nas práticas sociais e de uma crescente co-responsabilização dos diferentes agentes econômicos e da sociedade civil”, ressalta Jacobi. Ruscheinsky vê a necessidade de elaboração de um “pacto ou contrato social” que defina o grau de impacto e de intervenção no ambiente que se considera permitido ou inevitável. Nesse sentido, os governos figurariam como espaços de negociação do conflito. “Cabe ao governo ser mediador da construção de um projeto social que se importe com o futuro mais do que com os ganhos políticos de ações em curto prazo”, pondera Cortegoso.
Já as empresas, para Jacobi, além de um papel estratégico de comunicação e sensibilização, têm um dever ético de não produzir bens insustentáveis. “Quanto maior o número de empresas que produzem madeira certificada, papel certificado e reciclado e outros bens resultantes de reciclagem e reaproveitamento, menor o impacto ambiental”, lembra.
Apropriação do discurso
Se, por um lado, a adesão, ainda que parcial, das empresas ao discurso ambiental diminui a pressão sobre o meio ambiente, por outro, o próprio discurso de sustentabilidade ganha contornos de mercadoria e aumenta o consumo. “A institucionalização da questão ambiental é um bem e um mal, isto é, está permeada de ambigüidades e contradições”, reflete Ruscheinsky. Muitas vezes, o “selo verde” almejado para seus produtos é entendido pelas empresas apenas como um atrativo e diferencial na hora da escolha do consumidor, e não como uma imposição necessária à manutenção dos recursos do planeta. “A lógica com que as empresas se apropriam de um outro discurso e pela qual cumprem com as exigências das políticas ambientais refere-se ao ganho de competitividade internacional”, frisa o pesquisador. Ao manter essa lógica interna, as empresas não contribuem efetivamente para a mudança de paradigmas.
Outros aspectos permeados de ressalvas são o alarde sobre os impactos do consumo e o radicalismo na proposição de outros modelos. “Na sociedade do consumo efêmero, é usual que tudo seja visto como passageiro”, lembra Ruscheinsky. Por isso, a manutenção de posturas firmes e a reiterada ênfase nos riscos do consumo exagerado para o meio ambiente podem ser eficazes para a mobilizar a população na medida em que a memória social é cultivada, suscitando a contestação.
Por fim, em um contexto no qual 20% da população mundial é responsável por 86% dos gastos com consumo individual, segundo relatório de 1998 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os especialistas são unânimes: é fundamental discutir como garantir o acesso aos bens mínimos necessários para a sobrevivência dos amplos contingentes populacionais que ainda encontram-se à margem do consumo sem que isso comprometa ainda mais a sustentabilidade do planeta.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=36&id=432
O consumo excessivo é apontado pelo movimento ambientalista como o grande responsável pela pressão sobre os recursos naturais. Mesmo fora do movimento, é praticamente consensual que a manutenção dos padrões atuais de consumo levará ao esgotamento dos recursos do planeta em um futuro não muito distante. Diante desse prognóstico, a alteração no modo de consumir é apontada como única solução. Surge daí a questão: outro consumo é possível? Visto que o consumo não é apenas uma questão de hábitos e comportamentos dos consumidores, mas de produção, políticas de desenvolvimento, produtos disponíveis, cultura de consumo, outra questão emerge: outro sistema é possível?
Algumas mudanças relacionadas ao consumo estão em curso, ainda que muitas vezes representem intervenções pontuais. Aparelhos que consomem menos energia, reuso da água, reciclagem de papel e de outros materiais, substituição das sacolas plásticas descartáveis por outras de pano e a aposta nos biocombustíveis são alguns dos exemplos. “Os alertas sobre a crise ambiental percorrem décadas e estão aí alguns resultados, como políticas públicas, ONGs e iniciativas de educação ambiental”, afirma Aloisio Ruscheinsky, sociólogo e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Diversas organizações foram criadas visando conscientizar a população sobre a necessidade de um consumo consciente, como o Instituto Akatu, e muitas outras aderiram à causa, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz (Vitae Civilis).
Contudo, ainda não houve uma mudança estrutural nos padrões de consumo. A sociedade de consumo parece se retroalimentar e demonstra uma capacidade de influência muito superior a das instituições e vozes que preconizam alterações profundas. “Quem detém mais poder? A mídia, sustentada pela propaganda, instigando o consumo ou os obstinados ambientalistas?”, questiona Ruscheinsky. “As vozes de crítica ao consumo em massa têm sido ainda marginais ao processo social e mesmo dentro da academia e da produção do conhecimento”, completa.
Para Pedro Roberto Jacobi, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Teia- Laboratório de Educação e Ambiente, a lógica atual de consumo transcende ideologias e governos. Por outro lado, consumir também passou a significar muito mais do que apenas suprir necessidades. “O ‘status' da pessoa é, muitas vezes, medido pelo que consome e não pelo que possa ser necessário e útil em sua vida”, lembra Silvia Aparecida Guarnieri Ortigoza, geógrafa e professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, em seu artigo “Consumo sustentável: um compromisso de todos”. As profundas transformações, necessárias para garantir a sustentabilidade, encontram grandes obstáculos nessa sociedade em que o consumo está fortemente arraigado e na qual as pessoas estão constantemente insatisfeitas e são regidas justamente pela busca incessante da satisfação de todos os seus desejos.
Novos modelos
Apesar das dificuldades para efetivarem-se, novas formas de consumir são consideradas viáveis por quem as defende. “O Akatu só existe porque acredita que um outro consumo é possível”, enfatiza Raquel Diniz, coordenadora da área de capacitação comunitária do Instituto. Segundo ela, esse outro modelo possível baseia-se na consciência dos impactos gerados pelo consumo e dos limites dos recursos do planeta e na reflexão sobre valores e responsabilidades. Contudo, Ana Lucia Cortegoso, psicóloga, doutora em psicologia da educação e professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), considera que ainda é incipiente e insuficiente o nível de percepção que a humanidade tem da relação entre as ações individuais e os problemas globais.
Muitos grupos lutam para reverter esse quadro e diversas expressões foram cunhadas para se referir a esses novos modos de consumir: consumo sustentável, consumo ético, consumo responsável, consumo consciente, entre outras. Em geral, todas evidenciam o papel decisivo das escolhas do consumidor, que deve optar por suprir suas necessidades sem comprometer a capacidade do planeta de fornecer recursos naturais para as gerações futuras e de absorver os impactos negativos provocados pela produção, utilização e descarte dos produtos. Para que isso aconteça, de acordo com Jacobi, alguns paradigmas da sociedade industrial terão de ser repensados, como o uso intensivo de energia e insumos. “O consumo sustentável implica necessariamente numa politização do consumo”, afirma. Para ele, esse modelo transcende as mudanças comportamentais ou apelos mercadológicos orientados aos consumidores individuais, enfatizando uma escala de valores que rompe com a lógica mercadorizada.
“Queremos despertar o consumidor para o seu papel de protagonista na mudança do consumo”, explica Diniz. Por isso, o Akatu aposta no consumidor consciente como multiplicador desse ideal e agente indutor de políticas públicas e ações empresariais. “As pessoas acham que são impotentes e que sozinhas não vão mudar nada. O grande desafio é fazer com que elas entendam seu papel e saiam do automático na hora de consumir”, avalia ela. Para “sair do automático”, segundo Cortegoso, os consumidores precisam compreender o que os motiva para o consumo e atuar sobre essas motivações.
Para Diniz, a partir daí, o primeiro passo é reconhecer que cada ato de consumo gera um impacto. “Muitas pessoas esquecem, mas para fabricar e transportar qualquer tipo de produto, gasta-se água e energia”, pontua. Refletir sobre esses impactos é o primeiro dos 4 Rs, que englobam também reduzir, reutilizar e reciclar. “Deve-se educar primeiramente para a redução, afinal nem tudo que consumimos é realmente uma necessidade”, aponta Ortigoza, lembrando que é preciso distinguir as necessidades “reais” daquelas “criadas” pela mídia.
Contudo, apenas modificar os hábitos de consumo a fim de reduzir os efeitos ambientais negativos não basta. É preciso diminuir a pressão sobre os recursos naturais. “É necessário termos a habilidade de buscar o equilíbrio entre o que é ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível”, salienta o ativista holandês Manus van Brakel em seu artigo “Os desafios das políticas de consumo sustentável”. Para ele, a busca de um benefício social máximo a partir da utilização mínima dos recursos naturais requer uma espécie de revolução industrial ecológica “que leva a transportes bem menos intensivos no uso de energia, a uma maior utilização de recursos secundários do que primários, a produtos mais facilmente reparáveis e a uma agricultura com baixo nível de insumos externos”.
Outros atores
Além dos próprios consumidores, outros atores precisam mobilizar-se para garantir uma troca de paradigma. “A sustentabilidade se garante por meio de mudanças nas práticas sociais e de uma crescente co-responsabilização dos diferentes agentes econômicos e da sociedade civil”, ressalta Jacobi. Ruscheinsky vê a necessidade de elaboração de um “pacto ou contrato social” que defina o grau de impacto e de intervenção no ambiente que se considera permitido ou inevitável. Nesse sentido, os governos figurariam como espaços de negociação do conflito. “Cabe ao governo ser mediador da construção de um projeto social que se importe com o futuro mais do que com os ganhos políticos de ações em curto prazo”, pondera Cortegoso.
Já as empresas, para Jacobi, além de um papel estratégico de comunicação e sensibilização, têm um dever ético de não produzir bens insustentáveis. “Quanto maior o número de empresas que produzem madeira certificada, papel certificado e reciclado e outros bens resultantes de reciclagem e reaproveitamento, menor o impacto ambiental”, lembra.
Apropriação do discurso
Se, por um lado, a adesão, ainda que parcial, das empresas ao discurso ambiental diminui a pressão sobre o meio ambiente, por outro, o próprio discurso de sustentabilidade ganha contornos de mercadoria e aumenta o consumo. “A institucionalização da questão ambiental é um bem e um mal, isto é, está permeada de ambigüidades e contradições”, reflete Ruscheinsky. Muitas vezes, o “selo verde” almejado para seus produtos é entendido pelas empresas apenas como um atrativo e diferencial na hora da escolha do consumidor, e não como uma imposição necessária à manutenção dos recursos do planeta. “A lógica com que as empresas se apropriam de um outro discurso e pela qual cumprem com as exigências das políticas ambientais refere-se ao ganho de competitividade internacional”, frisa o pesquisador. Ao manter essa lógica interna, as empresas não contribuem efetivamente para a mudança de paradigmas.
Outros aspectos permeados de ressalvas são o alarde sobre os impactos do consumo e o radicalismo na proposição de outros modelos. “Na sociedade do consumo efêmero, é usual que tudo seja visto como passageiro”, lembra Ruscheinsky. Por isso, a manutenção de posturas firmes e a reiterada ênfase nos riscos do consumo exagerado para o meio ambiente podem ser eficazes para a mobilizar a população na medida em que a memória social é cultivada, suscitando a contestação.
Por fim, em um contexto no qual 20% da população mundial é responsável por 86% dos gastos com consumo individual, segundo relatório de 1998 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os especialistas são unânimes: é fundamental discutir como garantir o acesso aos bens mínimos necessários para a sobrevivência dos amplos contingentes populacionais que ainda encontram-se à margem do consumo sem que isso comprometa ainda mais a sustentabilidade do planeta.
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=36&id=432
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